Lançada em 2 de março, em pleno domingo de carnaval, a criptomoeda oficial de Ronaldinho Gaúcho resultou em uma ressaca fenomenal para os investidores. Mais um empreendimento polêmico do ex-jogador campeão mundial de 2002 com a seleção brasileira, a Ronaldinho Coin (STAR10) teve uma trajetória meteórica de ascensão e queda.
Em apenas uma semana, a Ronaldinho Coin (STAR10) despencou de sua máxima histórica de US$ 45,9 milhões em capitalização de mercado, registrada minutos após o lançamento na BNB Chain, para menos de US$ 1 milhão nesta segunda-feira, 10 de março, de acordo com dados do GeckoTerminal.
Gráfico de 1 hora da capitalização de mercado do STAR10. Fonte: GeckoTerminal
Apesar dos esforços de Ronaldinho e sua equipe para tentar ressuscitar o token, que incluem uma ponte para a Solana (SOL), que ostenta o principal ecossistema de memecoins do mercado de criptomoedas, o Star10 parece destinado a ir a zero, deixando um rastro de destruição de riqueza entre aqueles que nele investiram.
Asensão e queda do STAR10
O primeiro indício de que R10 estava planejando voltar ao mercado de criptomoedas surgiu em 21 de fevereiro, com uma postagem que, em inglês, dizia: “as criptomoedas estão parecendo bem aqui.”
Salvo raras exceções, todas as postagens referentes ao STAR10 foram feitas em inglês, mirando a comunidade global de criptomoedas.
Antecipando o provável retorno do ex-jogador ao mercado, o analista de dados on-chain Ali Martinez comentou: “sinal de topo.”
Dois dias depois, houve uma nova postagem que se mostraria premonitória: “Smart coins > Dumb coins.”
Em 25 de fevereiro, Ronaldinho publicou um vídeo cortejando Changpeng Zhao, o fundador da Binance. Sob a legenda, “para o meu amigo, CZ”, o vídeo mostra um detalhe de Ronaldinho autografando uma camisa oficial da seleção brasileira para presentear ao executivo da Binance.
O anúncio semi-oficial do lançamento do token foi feito em 27 de fevereiro, em uma postagem em que Ronaldinho alerta seus seguidores sobre “memecoins falsas” que estariam utilizando seu nome para aplicar golpes sobre os investidores. Em seguida, declara:
“Lembrando que ainda não tenho nenhum tokens oficial… Para toda a comunidade cripto: fiquem ligados porque muito em breve teremos grandes novidades por aqui!”
No dia seguinte, o perfil @10Ronaldinho postou um mapa de preço do mercado de criptomoedas mostrando a grande maioria dos ativos em queda, acompanhado de frases em inglês e portugês, dizendo:
“Jogadores medianos seguem a onda, lendas veem o que ninguém está vendo. Para a minha tropa: a gente olha para um lado, mas toca para o outro!”
Um dia antes do lançamento, em 1º de março, Ronaldinho repostou uma publicação de CZ que dizia “continuem construindo”, acrescentando que estava trabalhando nisso.
As menções diretas a CZ e escolha da BNB Chain, rede descentralizada da Binance, pra lançamento do token, mostram que Ronaldinho tinha esperanças de que o STAR10 fosse listado na exchange, potencializando seu alcance a uma ampla base de investidores.
No entanto, ambas as postagens foram ignoradas por CZ. Ironicamente, mais tarde, o fundador da Binance seria um dos principais responsáveis pelo naufrágio do token.
“Legado em construção”
Enquanto Ronaldinho curtia o carnaval em Salvador, o STAR10 foi oficialmente lançado com promessas superlativas. “Este não é apenas um token – é um legado em construção!”
“Experiências exclusivas, benefícios reais, colecionáveis autografados, e até mesmo a possibilidade de interagir com meu próprio agente de IA, construídos para aqueles que querem fazer parte da história”, foram alguns dos benefícios anunciados.
My new one and ONLY OFFICIAL token is HERE! It’s time to celebrate greatness, passion, and that legendary spirit that NEVER fades 😎Legends are not born… THEY ARE FORGED. And YOU can choose to be a part of it. Get your $STAR10 NOW. Let’s make history together!… pic.twitter.com/91KbaXVmgS
— Ronaldinho (@10Ronaldinho) March 2, 2025
Com uma capitalização de mercado inicial de aproximadamente US$ 12.000, o STAR10 disparou para US$ 45,9 milhões em minutos na noite de 2 de março, logo após o lançamento.
O STAR10 chegou ao topo do ranking de valorização do DexScreener, com uma alta de 94.769% em 24 horas. O feito foi comemorado com uma postagem no X.
Nas horas seguintes, o STAR10 enfrentou uma forte correção de 73%, mas na madrugada de 3 de março voltou a subir, à medida que ainda se beneficiava do fator novidade. Foi a última jogada do STAR10.
Dali em diante, o preço do token foi ladeira abaixo, com uma vida extremamente curta até mesmo para o padrão de tokens de celebridades.
Todo carnaval tem seu fim
Questionamentos ao tokenomics e à segurança do contrato inteligente do token logo vieram à tona e contribuíram para acelerar a queda do STAR10.
Inicialmente, menos de 10% do suprimento total de 1 milhão de unidades foram disponibilizados para negociação, ao contrário do que é comum em lançamentos de memecoins.
A comunidade cripto também considerou que não se tratou de um lançamento justo, uma vez que 20% do suprimento total do token foi reservado para o próprio Ronaldinho e 15% foi destinado à equipe de desenvolvedores.
Em 3 de março, a empresa de segurança Web3 GoPlus divulgou um alerta informando que o contrato do STAR10 permitia ao criador queimar os tokens de qualquer detentor, efetivamente destruindo os ativos dos investidores sem aviso prévio.
CZ, que até então ignorara completamente as menções de Ronaldinho, repostou a publicação da GoPlus, pedindo aos investidores que “por favor, tomassem cuidado.”
👇 Please beware! https://t.co/BOXwmXiWA7
— CZ 🔶 BNB (@cz_binance) March 3, 2025
Apesar da revogação da propriedade do contrato e da ampliação do período de travamento de tokens destinados a garantir a liquidez do token, anunciados no perfil de Ronaldinho, os danos à credibilidade do projeto se mostraram irreparáveis.
O STAR 10 já estava em tendência de baixa e registrava uma capitalização de mercado de US$ 18 milhões no momento da postagem de CZ. Desde então, a queda se aprofundou.
Em 4 de março, foi anunciada a primeira campanha oficial do STAR10, destinada exclusivamente à comunidade brasileira, cujo prêmio era uma camisa da seleção brasileira autografada por R10. O preço manteve-se indiferente.
Em uma nova tentativa de restaurar a confiança no projeto, o perfil oficial da STAR10 divulgou uma thread no X esclarecendo detalhes sobre o período de bloqueio dos tokens destinados a Ronaldinho e à equipe.
De acordo com a postagem, o período inicial de bloqueio tem duração de seis meses. Nem Ronaldinho nem a equipe poderão acessar, transferir ou vender suas participações antes disso.
Depois disso, ocorrerá a liberação gradual dos tokens ao longo de dois anos, garantindo o comprometimento dele e da equipe com o projeto no longo prazo.
Ponte para Solana e parceria com a Chiliz
Em uma última tentativa de ressuscitar o projeto, em 7 de março os desenvolvedores implementaram uma ponte para permitir a negociação do STAR10 na Solana. No entanto, as condições do mercado não estão favoráveis ao ecossistema de memecoins da Solana e a iniciativa até agora mostrou-se insuficiente para causar qualquer impacto sobre o preço do token.
Na mesma postagem, a equipe anunciou o lançamento de uma loja oficial, novas experiências e produtos vinculados ao token e uma parceria com a Chiliz para expandir o STAR10 para o ecossistema da blockchain focada em esportes.
Desde estes anúncios em 7 de março, o perfil oficial de Ronaldinho não fez mais publicações a respeito do STAR10. Em 9 de março, a capitalização de mercado do token caiu abaixo de US$ 1 milhão, enquanto o volume de negociação nas últimas 24 horas foi de apenas 7,8 milhões.
O colapso da STAR10 se soma a outros empreendimentos mal sucedidos de Ronaldinho no mercado de criptomoedas, que incluem a participação em campanhas publicitárias de empresas acusadas de promover golpes de pirâmide financeira, coleções de NFTs (tokens não fungíveis) e apoios a criptomoedas que foram a zero, como a Water Coin, a World Cup Inu e a Atari Coin.
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