Em uma manhã ensolarada de novembro, uma caminhonete seguia por uma estrada acidentada em meio ao terreno árido. Do outro lado do vale, uma torre de vigilância monitorava seus movimentos, rastreando o progresso do veículo em um mapa digital em um posto de comando próximo.

Com um clique do mouse, um técnico acionou um helicóptero robótico compacto chamado Ghost para investigar. Ao se aproximar da caminhonete, as imagens de vídeo mostraram uma pessoa saindo do veículo e lançando um pequeno drone em direção ao posto de comando. Outro clique ativou o Anvil, robô aéreo projetado para interceptar e derrubar drones menores.

Essa demonstração, promovida pela Anduril Industries, startup de defesa, revelou parte de visão de guerra baseada em inteligência artificial (IA) que a empresa espera implementar nas Forças Armadas dos EUA. O objetivo é criar frotas de drones aéreos e submarinos autônomos capazes de patrulhar sem descanso e com intervenção humana mínima, prontos para atacar sob comando.

Detalhe do Ghost
Ghost é um helicóptero robótico (Imagem: Divulgação/Anduril)

Revolução tecnológica no setor militar

  • A Anduril, fundada há oito anos, tornou-se nome proeminente entre startups de defesa que desafiam grandes contratantes militares;
  • Em vez de focar em navios gigantes e aeronaves custosas, a empresa aposta em drones ágeis e software avançado;
  • “Trata-se de produzir armas de custo muito mais baixo, fáceis de fabricar em massa e de reabastecer em tempos de guerra”, explica Brian Schimpf, CEO e cofundador da Anduril, ao The Washington Post;
  • Essa abordagem tem ganhado apoio no Pentágono, especialmente diante de desafios estratégicos;
  • Em abril passado, o Irã disparou mais de 300 mísseis e drones suicidas contra Israel;
  • Apesar do sucesso das defesas, que evitaram mortes e minimizaram danos, os custos foram altíssimos;
  • Enquanto cada drone iraniano Shahed custa cerca de US$ 50 mil (R$ 294,59 mil, na conversão direta), mísseis interceptores, como o SM-3, chegam a custar até US$ 28 milhões (R$ 164,97 milhões) cada;
  • Essa assimetria de custos preocupa autoridades. “Estamos gastando milhões para derrubar algo que custa milhares”, disse o almirante Samuel Paparo, comandante do Comando Indo-Pacífico dos EUA.

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A Anduril opera em ambiente de alta tecnologia, com sede em Los Angeles (EUA), e se destaca por sua cultura distinta e inovação. Entre seus produtos estão torres de vigilância, drones de ataque e software de integração, como o Lattice, que conecta robôs, sensores e equipamentos militares. Recentemente, a empresa anunciou investimento de US$ 1 bilhão (R$ 5,89 bilhões) em uma fábrica em Ohio (EUA), prevista para começar a produzir drones e mísseis em 2026.

O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA pode trazer novas oportunidades para a Anduril, dado o vínculo da empresa com apoiadores e conselheiros do ex-presidente. Cofundadores da startup têm conexões com nomes influentes, como Elon Musk e David Sacks, enquanto investidores, como o atual vice-presidente JD Vance, ajudaram a consolidar a relação entre tecnologia e defesa.

Apesar do entusiasmo, a crescente autonomia de sistemas bélicos levanta questões éticas. A Anduril, recentemente, firmou parceria com a OpenAI, criadora do ChatGPT, para aprimorar sistemas de defesa com IA, gerando preocupações sobre o uso de armas autônomas.


Ainda assim, Schimpf enfatiza que, apesar do avanço da tecnologia, os humanos continuarão no controle. “Acreditamos que as pessoas responsáveis pelo uso de armas devem ser responsabilizadas pelo impacto dessas armas”, afirmou.

Anvil
Anvil é um robô aéreo projetado para interceptar e derrubar drones menores (Imagem: Divulgação/Anduril)

Com o rápido avanço de drones acessíveis e de sistemas autônomos, o futuro da guerra está sendo redesenhado. Empresas, como a Anduril, propõem modelo mais eficiente e ágil, onde a tecnologia desempenha papel central na defesa nacional. A questão que permanece é: até que ponto a autonomia deve ir?